quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Meio dia, ela olhou no relógio. As pessoas começaram a passar por ela, algumas rindo em grupos, outras sozinhas, apressadas, contas a pagar na mão. A colega com a mochila da academia sorriu pra ela, desejou um bom almoço.
- Pra você também-.
Ela olhou para as próprias mãos: “Preciso urgentemente fazer as unhas. Vou aproveitar o horário do almoço...” Fechou os mil arquivos em que estava trabalhando, pegou a bolsa e saiu. No caminho, ela aproveitou o trânsito do horário do almoço para calcular o tempo que ia levar para chegar até o shopping, fazer as mãos e quem sabe já dava pra aproveitar e passar na farmácia, mandar fazer aqueles remédios e na volta do shopping ela almoçaria no restaurante ao lado do prédio do trabalho que seria mais rápido do que almoçar no shopping e então voltaria antes das duas da tarde e assim conseguiria adiantar um pouco do trabalho... Shopping, ticket, estaciona, salão.
– Oi, queria fazer a mão – Não, não tenho preferência, qualquer manicure que estiver disponível. Obrigada. -
Opa, barulhinho de mensagem no celular. Ela olha. É a chefe, que está viajando e quer saber se ela aprovou um material com o cliente. “Caramba, na hora do almoço?”. Ela responde que sim, ela aprovou. Ela encontra a Manicure, sentam e começam o serviço. Opa, mensagem de novo.
– Desculpa, é o meu celular, recebi uma mensagem, preciso ver. –
É a chefe de novo. Quer saber por quanto ela aprovou.
– Desculpa viu, mas eu tenho que responder esta mensagem, é a minha chefe. Ela quer saber algumas coisas-.
A Manicure, com uma voz doce responde: não tem problema não, deixa essa mão na água e vai respondendo com a outra, depois a gente vai trocando.
E ela foi respondendo a mensagem, sem nem lembrar direito da droga do custo, mas afinal de contas era hora do almoço, não dava pra ter ligado um pouco antes ou um pouco depois? E lá no troca-troca de mãos e mensagens ela meio que se desculpando com a Manicure porque tinha que responder pra chefe naquela hora e quase já estava se desculpando pra chefe porque estava fazendo a mão na hora do almoço e a mesma voz doce– não é fácil, eu sei que não é fácil. Ela não soube dizer se foi o tom de voz ou se foi o jeito de quem realmente entendia que não era fácil que fez ela parar. - É muito duro ter alguém atrás de você o tempo todo, mas você é uma moça muito nova e muito bonita, você vai reverter esta situação.
Ela ouviu aquilo, parada... A Manicure não tirava os olhos das mãos dela, continuava com seu trabalho mecânico. Ela sabia que a Manicure não a conhecia, não sabia quantas horas de sono ela estava perdendo, nem quantas horas extras ela andava fazendo. A Manicure não sabia se a chefe andava ou não atrás dela e muito menos se a situação precisava ou não ser revertida. O fato é que aquelas palavras de compreensão fizeram com que ela mesma criasse fé naquilo. E, de repente, as lágrimas começaram a rolar. Lágrimas que ela andava segurando porque a pressão por prazos e resultados não deixam tempo pra isso.
Ela disfarçou como pôde as lágrimas, afinal que situaçãozinha esquisita, fazendo as unhas no shopping e chorando na frente de uma desconhecida. A Manicure, para descontrair, ofereceu um esmalte vermelho Pra alegrar a vida e ainda elogiou os cabelos cacheados da freguesa.
- Ficou ótimo, obrigada.-
Ela desceu as escadas, pagou e foi embora, para seu trabalho cheio de prazos, clientes, campanhas, chefe e pressão. Mas foi embora com um pouco mais de coragem. E também pensando que existem lugares bem esquisitos para encontrar anjos de luz.

6 comentários:

Cassandra disse...

Quer maravilhoso! As vezes sem uma dessas a gente morre engasgada com a vida.

Leticia disse...

Deus sempre manda esses anjos.
Sorte e força para reverter a situação.

Iara Alencar disse...

O.a.
Eu gostei disso.
Mas, porem:
1- devido a complexidade e minhas unhas (as das mão tem cuticulas finas demais e é impossivel faze-las sem cortar e as dos pés são muito encravadas) eu jamais vou a manicure com pressa ou com algo pra fazer.
Eu prefiro ficar sem fazer.
2- nesses tempos de cobranças e pressões estamos esquecendo que somos de carne e osso.

Ana Paula disse...

Já passei por isso... De chegar às lágrimas por causa de palavras de pessoas estranhas. Mas eu sou uma manteiga derretida, mesmo...
Chefes deviam ter prescrição médica para doses cavalares de semancol...

Iara Alencar disse...

Oi alma
nao sei o que tenho
mas tenho problemas p/ e´xperimentar algo novo.

日月神教-向左使 disse...

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