Naquela manhã Anna fechou a porta de casa bem devagar..
Queria que aquele momento não acontecesse nunca. Vê-lo
entrar pela última vez no elevador do hall do seu prédio.
Não houve um adeus. Não falaram sobre isso. Mas ela sabia
que depois dessa noite não haveria mais expectativa. Não teriam mais
sobressaltos cada vez que seus olhares se cruzassem. Não haveria mais calafrios
ao sentir as mãos pequenas segurando com força na sua cintura.
Sentiu uma lágrima valente escapando pelo canto do olho.
Ele era bom demais pra ser verdade. Ou pelo menos para ser
dela.
Anna sempre soube que ele tinha sido um presente. Em um
momento de pouca fé o universo tinha colocado aquele par de olhos verdes na sua
frente como que para desafiá-la a acreditar que existiam pessoas assim.
Ele existiu. Foram
poucas as vezes em que eles se viram, se sentiram, se tocaram e explodiram de
desejo. E ela sempre teve a sensação de
quero mais, frustração, vontade de um futuro impossível. Ele era bom demais pra
ser verdade. Ou pelo menos para ser dela.
E agora ele tinha ido embora pela última vez. Ela sabia
disso. Sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Mas sempre fantasiou
que ele encontraria uma menina da idade dele, 12 anos mais jovem que ela mesma.
Imaginava o dia em que ele se apaixonaria loucamente por essa menina e que ela
seria como ele. Feliz, franca, inteira. Tudo o que Anna não conseguia ser.
Ele foi embora. E com ele levou a leveza, a esperança, a
juventude, a coragem. Anna queria ser como ele. Tinha inveja dele. Da pouca
idade. Da muita ousadia. Da simplicidade. Até da falta de consciência que ele
tinha de si mesmo. Do quanto ele era especial. Diferente. Anna queria ser como
ele. Queria ser ele. Ele é tudo o que ela queria ser e não conseguia. Estar com
ele era uma montanha-russa de sentimentos. Inveja, cobiça, desejo, felicidade,
orgulho, paixão. Tudo misturado.
E agora Anna assiste a tudo pelo computador. Assiste a vida
dele sem ela. Assiste a vida que ela
queria que fosse a dela. Assiste a vida dele que não tem mais o espaço dela.
Anna sabia que isso acabaria logo. Ele era bom demais pra
ser verdade. Ou pelo menos pra ser dela.
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