Ela escolheu um canto discreto, de onde podia ver sem ser
vista.
Ela só queria observar. Sem questionamentos. Sem ser notada,
sem perturbações.
Estava mais interessada nos casais. Não aquelas convivências
de anos, décadas.
Nos casais jovens. Onde pudesse encontrar aquele olhar de
cobiça, de entusiasmo, de expectativa.
Era neles que ela apostava. 50% de chances. De um final
temporariamente feliz. Por que os finais são temporários. A felicidade é
temporária.
Qual a medida da felicidade. Do final feliz. Por quanto
tempo eles estarão felizes juntos? Até que a vida ardilosamente mude tudo.. e
eles estejam desejando novamente por esse momento de expectativa.
Ela ficou observando por horas. Escolhendo aqueles que
tinham mais chance. Imaginando um fim digno praqueles que pareciam fadados ao
fracasso.
Era assim que ela passava suas tardes de sábado. Vivendo a
vida de outros. Para que não precisasse olhar pra sua.
Pra sua solidão. Seu fracasso. Ou melhor, sua expectativa de
fracasso. Sua sina. Sua crença.
Ela passou meses indo àquele lugar. Todos os sábados.
Criando roteiros para a vida alheia.
Esperando que um dia fosse a vez dela. Lá.
Sendo notada.