domingo, 13 de julho de 2008

Ficção


Abriu os olhos devagar. A princípio não conseguiu reconhecer onde estava. Não se lembrava bem. Quarto de hotel. Sentiu o quarto girar. Sim, agora estava lembrando.
O champagne, as risadas, os aplausos, a música alta. Fechou os olhos..
A festa de casamento já tinha começado quando ela decidiu que precisava ir embora dali.
A amiga estava realmente linda no vestido branco, o noivo tinha aquele sorriso bobo irritantemente estampado na cara, as damas circulando de um lado para o outro no vestido lilás decotado.
O barman aparentemente fora contratado para cantar todas as solteiras da festa e estava empenhado em cumprir a função com maestria. Ela achou graça na brincadeira com os copos e aproveitou para manter a taça sempre bem cheia.
Casamentos são uma festa muito peculiar. As pessoas usam a melhor roupa, as mulheres desfilam embaladas em vestidos apertados cheios de fendas e alças sobre saltos intermináveis destilando veneno e comentários inapropriados.
Mas há a tal “magia”. Olhar a felicidade dos noivos. Desejar a felicidade aos noivos. Desejar a felicidade dos noivos. Olhar o lugar dos noivos e desejar estar ali.
Definitivamente ela precisava ir embora dali.
Pediu licença da mesa e avisou que ia ao toilette.
Passou pelo barman, pediu mais champagne, isso, bem cheia. Sorriu ladinamente e agradeceu.
A passos vacilantes dirigiu-se ao jardim. Ah, agora sim... Ouviu a música ficando longe. Sentiu o vento frio no rosto. Adorava a sensação do vento no rosto. Fechou os olhos. Sentiu dor. A dor de sempre.
Tomou o que restava do champagne, olhou a porta de saída e teve um ímpeto de sair correndo. Deu um passo, outro, e parou. Não tinha coragem. A dor aumentava. As lágrimas escorriam agora. Precisava respirar, ter calma, controle.
Sentiu um calor repentino nas costas, ele encostou a mão na cintura dela e perguntou se precisava de ajuda.
Virou-se e olhou aqueles olhos castanhos, preocupados.
Sentiu vergonha, agradeceu e disse que estava tudo bem, procurando esconder as lágrimas
Ele sorriu. Fez algum comentário sobre o tempo, o frio, o champagne.
O quê? Ela não conseguiu nem entender.
Ele tirou o terno e a cobriu. Disse que casamentos são ocasiões onde tudo está à flor da pele. Ela prendeu a respiração, queria segurar aquele momento. Aquela sensação. Esqueceu a dor. Sentiu calor.
Ele perguntou se ela não queria caminhar um pouco. Ela sentiu aquele calor nas costas, a mão dele encostada na cintura dela.
Foram até o fim do jardim. Ela disse que não era sempre assim, era o champagne...
Ele perguntou se ela queria voltar pra festa. Ela disse que preferia ficar um pouco mais lá fora e já estava devolvendo o terno quando ele pediu para ela não se mexer.
Ela parou, olhou para ele surpresa enquanto ele dava meia volta e sumia por 5 minutos.
Quando voltou, trazia uma garrafa de champagne.
Ela riu, ele riu.

Ela abriu os olhos novamente. Sentiu um calor repentino nas costas, ele encostou a mão na cintura dela e sussurou bom dia.

4 comentários:

Murdock disse...

E aí, será que foi um final feliz?

Anônimo disse...

Eu até pegaria O Champagne, no entanto, ela beberá só, não gosto deste tipo de bebida!

Anônimo disse...

Encontrou-se o principe encantado num casamento, beberam champanhe, deram risadas, e foram felizes para sempre.
kakakakakakaka
empolgante!! por um instante pensei que ela fosse chorar e lamentar pelo casamento dela nao ter sido o dos contos de fadas e nem aquele que é pregado pelo padre no altar da igreja.

Engraçado, as noivas ficam sempre bonitas em casamentos, já notou??

Clarice disse...

A vida imita a arte ou a arte imita a vida?